domingo, 1 de fevereiro de 2009


'Quando te fores embora, não faças barulho. Prefiro não saber, não te ouvir, não sentir ao olhar a tua sombra na parede e perceber que pode ser a última vez que a luz desenha o teu perfil aquilino, metade pássaro, metade imperador. Prefiro não saber que partes, porque ao menos assim, não choro a tua ausência, porque não me foi anunciada. E se não fizeres barulho e eu continuar adormecida, no dia seguinte vou imaginar que acordei noutro lugar, que entrei numa dimensão desconhecida, que mudei de nome e de coração e que, como nunca te conheci, não posso chorar a tua perda. Prefiro que partas de noite, quando os espíritos inconformados e sem pátria descem à terra à procura de uma alma distraída, porque assim não te vejo a olhar para a cama, a parar os ponteiros do relógio para guardares para sempre na tua memória o nosso último momento. Sempre imaginei que partirias assim, e quanto mais me dizes que me amas e que sou a mulher da tua vida, mais me convenço que estou certa e que pode ser isso mesmo, um dia te podes levantar da cama, a meio da noite, fugindo para sempre do teu ninho, só porque tens medo de nunca mais o conseguir abandonar.'






sábado, 3 de janeiro de 2009





- Quem és tu?
- Um assassino.
- De onde vens?
- De uma estrada.
- Para onde vais?
- Para o fim do mundo.
- Porquê?
- Porque terei de abandonar este lugar em breve.
- Porquê?
- Terei de seguir a minha viagem depois de te matar e ver-me livre do teu corpo.
- Porque me queres matar?
- Sou um assassino.
- Porque me escolheste?
- És inteligente e tens um corpo que me agrada.
- E o que te agrada, destrois?
- Obviamente.
- Porquê?
- Quero acabar com a tua beleza.
- Porquê?
- Irrita-me.
- Porquê?
- És mais belo do que eu.
- Como me vais matar?
- Ainda não decidi.
- Posso escolher?
- Não.
- Porque não?
- Porque eu sou o juiz.
- Quem te nomeou juiz?
- Deus.
- Acreditas em Deus?
- Já não.
- Porquê?
- Matei-o.
- Era mais belo do que tu?
- Não, era mais estúpido.
- És estúpido?
- Não.
- O que és, então?
- Um assassino.
- Não estás a ficar cansado de conversa?
- Não, és inteligente.
- Porquê?
- Aproveitas para carregar com balas a arma que escondes por detrás das costas.
- Como sabes que tenho uma arma por detrás das costas?
- Acabas de me dizer.
- E pensas que te vou matar?
- Penso.
- Já pensaste que podes estar a pensar mal?
- Eu penso sempre que penso bem.
- Ainda me queres matar?
- Quero.
- Se eu der um tiro no rosto, ficarei menos belo?
- Sem dúvida.
- E já não me matas?
- Não.